2017-07-18 (3)

Créditos: Reprodução HBO

Você pode trocar o seu Jornal Nacional diário por uma dose semanal de notícias em Greg News, por exemplo. Programa satírico de notícias apresentado pelo humorista, ator, escritor, poeta e esquerdista-vai-pra-Cuba-de-comentários-da-internet, Gregório Duvivier, Greg News com Gregório Duvivier estreou este ano na HBO e já vai para o seu décimo primeiro episódio, se consolidando como uma boa fonte de informação para quem está cansado do excesso de notícias trágicas da cena política brasileira e quer uns 30 minutos de folga para, pelo menos, rir delas.

No primeiro episódio, Gregório inicia o programa com um monólogo prometendo informação. E informação confiável. Pode confiar, o formato do programa promete, de terno completo, semblante sério, cenário cosmopolita e elegante, Gregório garante que o seu programa, assim como todos os programas de notícias que se prezem, será imparcial.

Quer dizer, menos quando o assunto for aquele metalúrgico barbudo que tirou 40 milhões da pobreza, transformou o Brasil e conquistou o coração do apresentador. Mas, pelo menos, eles garantem que o programa não irá mentir para ninguém. A não ser que a piada seja boa, claro. “A nossa única missão é colonizar a juventude e criar uma nova militância que empurre goela abaixo do povo brasileiro maconha, copinho menstrual e veganismo”, diz Gregório no trecho de abertura. Para acalmar os ânimos, fica combinado que Gregório não irá se referir nem a golpe nem a impeachment, mas golpechment.

 

É com uma sátira de um programa de notícias que Greg News inicia sua primeira temporada. Filiado a programas como Last Week Tonight with John Oliver (HBO, Estados Unidos) e The Daily Show (Comedy Central, Estados Unidos), Greg News se inspira nas marcas de gênero de programas de late show satíricos americanos. No Brasil, o formato de late show de entrevistas foi adaptado e consolidado por Jô Soares. A tese de doutorado “A conversação como estratégia de construção de programas jornalísticos televisivos”, da pesquisadora Fernanda Maurício, traz mais informações sobre as matrizes culturais e o desenvolvimento dos programas desse gênero no Brasil.

Como nos programas que inspiraram Greg News, o apelido do apresentador, já no título, traz o caráter mais pessoal do programa. A persona pública de Gregório Duvivier e os discursos sobre ele, como ser de esquerda, defensor da legalização da maconha, são sempre temas de piadas. Além de uma plateia calorosa que marca a finalização das piadas, composta, como o próprio Gregório diz, por seus amigos e parentes.

A sátira dá o tom do programa e é o motor para que os produtores brinquem com os gêneros televisivos do telejornalismo e do humor. Quando consideramos o gênero televisivo como uma categoria cultural e o telejornalismo como gênero televisivo percebemos como essas marcas estão em disputa no programa. O conceito de gênero televisivo como trabalhado no TRACC entende que os gêneros são formas culturalmente construídas e reconhecidas tanto entre produtores quanto por quem assiste. O telejornalismo, então, concebido como gênero, é disputado e atualizado constantemente por Greg News, como podemos perceber na formalidade da abertura do programa, nas roupas do apresentador, nos enquadramentos e na presença da bancada.

No meio de boas piadas e repetição de memes que estão circulando há semanas na internet e fazem parte de uma espécie de repertório comum de esquerda, ou das disputas entre setores da esquerda e da direita nas redes sociais, o programa se torna às vezes um pouco didático. Um didatismo que atrapalha o humor. Ser um programa de notícias também prega peças na qualidade do programa, por exemplo, quando a notícia da delação dos donos da JBS e a gravação divulgada por Joesley Batista, que ameaçou o governo Temer em maio deste ano, fez com que os produtores tivessem que levar ao ar, na sexta-feira, 19 de maio, um programa feito de supetão. Geralmente, os programas são gravados às terças, ou com mais antecedência, e vão ao ar na sexta-feira. Com a delação publicada na imprensa em uma quarta-feira, eles perderam metade de um programa já gravado.

Apesar do remendo do programa em clima de plantão na semana anterior, a delação dos irmãos JBS propiciaram, na semana seguinte, um dos melhores programas dessa temporada, sobre a história e o poder dos Irmãosley. “Eles não são uma dupla sertaneja, apesar de serem de Goiás, terem nomes terminados em Esley, corte de cabelo anos 90, e uma gravação que apesar da péssima qualidade fez sucesso em todo o Brasil”.

É quando explica menos e propõe mais que a criatividade e o potencial de um programa como esse mostra as suas melhores sacadas. Quando propõe uma negociata com o deputado Evair Vieira de Melo, que fez um discurso revoltado na tribuna da Câmara, reivindicando a fabricação dos bombons Serenata de Amor com os seus ingredientes originais. Greg News propõe uma petição para a volta do bombom original, caso o deputado lute contra uma proposta de lei em andamento que enfraquece a legislação do desarmamento. Ou propõe a privatização da Odebretch, a futura Odebras, depois de uma explicação sobre como algumas empresas privadas brasileiras foram financiadas pelo BNDES e, por isso, conclui o programa, são de propriedade de todos os brasileiros.

Não é qualquer programa de humor. É um programa de notícias que informa sobre política com piadas. E como, por convenção, programas jornalísticos e a política precisam ser sérios e o entretenimento, muitas vezes, é visto como antítese ao bom jornalismo, um programa como Greg News precisa, constantemente, reafirmar o seu discurso de veracidade da informação. Uma boa amostra desse esforço é o décimo primeiro episódio, em que os temas como fake news e fact-checking foram centrais para o programa. O programa se coloca como oposição a outros produtores, como o movimento político MBL e setores da direita e da esquerda, que espalham informação falsa na internet, defendendo os valores do jornalismo sobre a checagem de fatos e a veracidade da informação.

Mas, como sempre, a veracidade da informação está sempre no limite da piada e da sátira. E para não perder a piada, eles lançam o próprio site de fake news, Grogue News: onde checar fatos é censura.

 

Legenda: “A extrema direita brasileira copia a extrema direita americana, assim como a extrema esquerda brasileira copia a extrema esquerda americana”. Referência a Last Week Tonight with John Oliver
Crédito: Reprodução HBO