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Foto: DINO

Revista em quadrinhos, jogos eletrônicos, desenhos animados, filmes e até releituras para o público adulto: parece que a Turma da Mônica, do cartunista Maurício de Souza, está bem presente no imaginário dos brasileiros. Há 54 anos, precisamente. E sempre com uma forma nova, desde os desdobramentos em séries de desenhos com os personagens adolescentes, até a mais recente produção, a série de vídeos Mônica Toy – pensada para ser veiculada na internet.

O canal oficial da Turma da Mônica no YouTube traz episódios curtos, de apenas 30 segundos, mas que conseguem cativar públicos bastante distintos, em idade e localização geográfica. Isso especialmente porque os vídeos mostram os personagens em diversas situações, mas sem diálogos, o que facilita o acesso em todo o mundo. Além disso, por mais que sejam histórias fortemente ancoradas na trajetória dos personagens tão populares no Brasil, não há necessidade de conhecê-los previamente, já que são narrativas independentes. Atualmente, as historinhas possuem em média 240 milhões de visualizações por mês, incluindo públicos da Rússia, do Japão e dos Estados Unidos – e são os vídeos mais assistidos do canal.

A série foi lançada em 2013, em comemoração aos 50 anos da Mônica, e também passou a ser exibida pelos canais TBS e Cartoon Network, no mesmo ano. Atualmente, a série também é veiculada no Boomerang e no iTunes. Mônica Toy já está em sua quarta temporada, com a soma de apenas 52 minutos, divididos em 26 episódios em cada temporada anual. Os novos episódios são lançados no canal às quartas-feiras, 15h, mostrando uma serialização que é tão presente nos dias de hoje.

A repaginada a que os personagens foram submetidos não serviu para substituir o clássico de Maurício de Souza, mas, ao contrário, fortaleceu a marca e atingiu outros públicos, principalmente pela multiplicidade de plataformas possíveis ao consumo. E são muitos movidos, também, pelo sentimento de nostalgia, pela memória afetiva de quem há anos se vê rodeado pelo universo “mauriciano”. Os gibis da Turma da Mônica ainda são comercializados no Brasil e em mais de 30 países, com a média mensal de venda de dois milhões de exemplares.

Fica uma pergunta: o que esses vídeos têm de novo? Mônica Toy não é só uma adaptação da Turma da Mônica. A nova linguagem, em computação gráfica, com uma edição rápida, elementos comuns em produções na internet, ou a forma de narrar, em 30 segundos, aliada a outro estilo de desenho mais próximo dos anime ou mangá, o chamado chibi, traz um diferencial para o produto.

Os vídeos foram produzidos a partir dos toy arts, uma expressão artística que se entrelaça a uma estética vinculada aos adultos, a partir de uma ironia e crítica à seriedade da vida adulta, bem como através da utilização de elementos que resgatam memórias de infância. É o que acontece com matrizes culturais apropriadas pela série, como a presença de referências e alusões a filmes e a personagens antigos, como o Godzilla, no episódio “Monizilla”, ou ao Darth Vader, de Star Wars, no episódio “Star Toys”.

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“Star Toys”, episódio X, Temporada X.

Além disso, os vídeos estão em processo de interlocução com outros gêneros, televisivos e cinematográficos, além da internet e fora do próprio contexto brasileiro. Exemplos disso são as parcerias que a Maurício de Souza Produções (MSP) fez com a TeleVisa – detentora dos direitos da série Chaves e Chapolin Colorado, e com a Sony Pictures, divulgando o filme Homem Aranha – De volta ao lar, para a produção de episódios com a presença de seus personagens e que permitem a circulação da série nos cinemas e nas TVs de todo o mundo.

Por conta do enorme sucesso de público, a MSP se juntou a Plot Kids em 2016 para desenvolver um aplicativo que reúne todos os episódios e recursos como o download para assistir aos vídeos off-line. Além disso, Mônica Toy já nasceu com licenciamento, para se desdobrar em outros produtos, como álbuns de figurinhas, bolsas, bonecos, material escolar.

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Um produto tão conhecido e já consolidado precisa se reinventar, produzir novos formatos e incorporar realidades mais atuais para se manter tão forte no mercado, mesmo que ainda guarde matrizes culturais tão sólidas. Foi preciso entender as lógicas produtivas mais novas para atingir esse sucesso. A Turma da Mônica não se modificou apenas pelos traços de seu criador, já que teve de transpor linguagens, passar dos papéis às telas da TV ou do computador, tablets e smartphones. Desde 1976, quando o desenho se tornou animação na televisão, até agora, muito se modificou, da técnica empreendida até as competências de recepção do público que a consome. É muito por conta disso, inclusive, que Mônica Toy atingiu tamanho sucesso. As formas de ver e as dimensões perceptivas são outras, a criança que hoje assiste a Mônica Toy está muito mais habituada com essa interface.

REFERÊNCIAS

ENTREVISTA: Maurício de Souza revela projetos para ‘Turma da Mônica’. CONVERSA COM BIAL. Disponível em: http://gshow.globo.com/programas/conversa-com-bial/episodio/2017/07/14/mauricio-de-sousa-revela-projetos-para-turma-da-monica.html Acesso em: 14 de agosto de 2017.

IZEL, Adriana. Em biografia, Maurício de Souza revela trajetória até se tornar quadrinista. In: Correio Braziliense Online. Disponível em: http://gshow.globo.com/programas/conversa-com-bial/episodio/2017/07/14/mauricio-de-sousa-revela-projetos-para-turma-da-monica.html Acesso em: 13 de agosto de 2017.

JANKAVSKI, André. Quem vai mandar nessa turma? In: IstoÉ Dinheiro Online. Disponível em: http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/negocios/20140411/quem-vai-mandar-nessa-turma/145387 Acesso em: 13 de agosto de 2017.

MASSON, Celso. “O mundo precisa de mais turmas da Mônica”. In: IstoÉ Online. Disponível em: https://www.terra.com.br/noticias/dino/turma-da-monica-faz-lancamento-mundial-de-novo-aplicativo,bcf5aea293b8002345150644b08ae936l7e821j3.html Acesso em: 14 de agosto de 2017.

MOREIRA, Carlos André. Como Maurício de Souza reinventa a Turma da Mônica no século 21. In: ZhLivros Online. Disponível em: http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/livros/noticia/2017/06/como-mauricio-de-sousa-reinventa-a-turma-da-monica-no-seculo-21-9809229.html Acesso em 13 de agosto de 2017.